Agora que temos um conhecimento mais consistente sobre como nossa mente responde à rejeição, ao abandono e a outros tipos de exclusão social, é propício buscarmos alternativas e estratégias para superarmos as limitações causadas pela dor e pelo sentimento de rejeição.
Primeiramente, vamos relembrar alguns pontos iniciais:
1. a rejeição nem sempre é algo que podemos controlar;
2. o sentimento de rejeição (sentir-se rejeitado) não é exatamente a mesma coisa que ser de fato rejeitado;
3. a maior rejeição que pode existir é a rejeição de si mesmo. Existem muitas causas que podem gerar a rejeição. No início deste capítulo já mencionei alguns exemplos, como uma gravidez indesejada, abandono parental, divórcio etc.
Para algumas pessoas, esses momentos são passageiros. Para muitas outras pessoas, esses desconfortos, essa sensação de não pertencimento pode perdurar por toda a vida, afetando tanto o âmbito familiar e afetivo quanto o profissional.
Um dos maiores perigos de se sentir rejeitado são justamente as formas de defesa que encontramos. Já atendi e me conectei com inúmeras pessoas que apresentavam queixas de terem sido traídas, trocadas ou abandonadas no passado e que, justamente por causa disso, estabeleceram uma espécie de barreira emocional.
Criar vínculos profundos, conectar-se verdadeiramente, já é por si só um grande desafio para a maioria das pessoas. Aprender a se conectar é algo que exige uma capacidade enorme de empatia, de interesse e, principalmente, de amor. Para se conectar com o outro é preciso, primeiramente, ser capaz de se entregar Imagine o quão difícil pode ser, para uma pessoa que foi rejeitada e abandonada, conseguir voltar a se entregar a um novo relacionamento amoroso! Sem dúvidas a rejeição cria uma espécie de barreira.
Algumas pessoas, aliás, erguem essas barreiras conscientemente e por escolha própria. Talvez você mesmo já tenha feito promessas para você mesmo do tipo “nunca mais confiarei em ninguém”. Essas promessas que fazemos para nós mesmos são verdadeiras profecias. Se você promete nunca mais confiar em ninguém, você está contribuindo ativamente para estabelecer a crença em sua mente de que as pessoas não merecem confiança.
O problema disso é que, ironicamente, você passa a mensagem de que nem mesmo você merece confiança. De forma geral tenho visto, na prática, que defesas contra a rejeição acabam criando mais rejeição e isolamento social. E isso é o contrário do que queremos e precisamos para atingir uma vida plena. Não deixe que uma rejeição defina você, sua vida e seu futuro. Nas nossas dores mais profundas estão os nossos maiores poderes.
Sim, existem situações injustas, existem pessoas que podem ser muito cruéis. Talvez você conheça alguém que tenha sofrido maus-tratos em uma idade quando nem sequer podia se defender. Talvez você mesmo tenha passado por isso. Mas eu quero lhe dizer: o que está feito está feito. Não podemos mudar o passado, no entanto podemos nos desconectar das dores do nosso passado e construir o futuro que quisermos.
Um caso interessante é a história do ator Arnold Schwarzenegger. Na década de 1970, após ter se aposentado do fisiculturismo, Arnold estava no início de sua carreira cinematográfica. Após estrear um filme que foi um verdadeiro fracasso de bilheteria, Arnold foi entrevistado pelo escritor Steve Chandler, que na época era colunista de um jornal. Durante a entrevista, Arnold declarou que iria se tornar o astro de maior sucesso de bilheteria de Hollywood.
Chandler conta que ficou espantado com a declaração, pois não acreditava que o ator com sotaque extremamente carregado e porte físico enorme pudesse conseguir realizar o que declarara. Intrigado, Steve Chandler perguntou como Arnold planejava realizar isso, levando em conta o fracasso de seus primeiros filmes e a rejeição do público. Arnold respondeu que iria fazer exatamente a mesma coisa que o havia tornado um dos maiores fisiculturistas do mundo: criar uma visão daquilo que desejava e acreditar nela como se já fosse realidade. Bom, o resto você já sabe, não é? Arnold Schwarzenegger não só se tornou um dos maiores astros de todos os tempos do cinema hollywoodiano como ainda foi além, tendo sido eleito o 38º governador do estado da Califórnia em 2003. Rejeições são inevitáveis para qualquer pessoa que se movimenta, que empreende, que ousa ir atrás de seus sonhos.
Até mesmo grandes astros do cinema como Arnold Schwarzenegger ou grandes escritoras como J. K. Rowling passaram por isso. Nem sempre conseguimos os resultados que desejamos já na primeira tentativa. Na verdade, as maiores conquistas são daqueles que aprendem com seus erros, com seus fracassos, com suas rejeições. Por isso, lembre-se sempre de nunca se esquecer: rejeições não definem sua vida ou seu trabalho.
O que define sua vida é aquilo que você escolhe fazer dela, apesar de todas os contratempos que existem. Sabe qual a maior diferença entre pessoas que atingem resultados extraordinários e pessoas que desistem? É exatamente a capacidade de aprender com os erros e não ter medo de se corrigir. Se você quer se libertar, aprenda a conduzir sua vida da mesma forma que marinheiros conduzem um navio: embora não podendo controlar a direção do vento, podemos manusear as velas para chegar ao destino que quisermos.
Outro tipo de rejeição que não depende inteiramente de nós é a rejeição amorosa. Sim, sentir-se rejeitado por um parceiro, por uma namorada ou até mesmo pela esposa ou marido é uma das piores sensações que podemos sentir. Infelizmente, no campo do amor, as rejeições são frequentes. Se você já sofreu uma decepção amorosa, sabe do que estou falando. O que fazer nesse caso? Não existem respostas universais, mas podemos lançar mão de alguns cuidados que aprendemos com a experiência.
O primeiro cuidado que devemos ter em mente é o de não ultrapassar os limites do outro. O amor é muito melhor quando correspondido, mas, infelizmente, nem todas as pessoas irão corresponder ao nosso amor. E, quer você aceite, quer não, nada pode obrigar alguém a corresponder aos seus sentimentos. Faz parte do processo de amadurecimento aprender a lidar com esse tipo de situação. Dar provas exageradas e demonstrações públicas do seu amor pode soar como uma boa ideia, mas tenha cuidado, pois nem sempre o resultado acontece como nos filmes românticos que passam na TV. Respeitar o espaço e a vontade das outras pessoas é uma das formas de evitar sentir-se ainda mais rejeitado.
Por outro lado, não devemos deixar que esse cuidado se transforme em medo de se aproximar, medo de estabelecer contato, medo de criar vínculos. É preciso buscar um caminho de equilíbrio, que não seja invasivo, mas que também não te impeça de deixar transparecer suas intenções de forma honesta e sincera. Cada pessoa evolui e se desenvolve no seu tempo específico. Por isso mesmo, cada um sente a necessidade de se conectar de forma diferente e em momentos diferentes. Aprender a respeitar isso sem levar tudo para o lado pessoal é uma forma de entender que nem todos estão prontos para o tipo de relacionamento que esperamos, seja ele casual, seja sério. Não deixe que isso afete sua autoestima.
Pelo contrário, use isso a seu favor e aprenda a reconhecer os sinais de abertura e intimidade que o outro emite e, nunca, sob hipótese alguma, force esses limites. As rejeições e as decepções amorosas são algumas das maiores causas para o sentimento generalizado de rejeição. Sabe aquele medo de ser rejeitado por não se sentir bom o suficiente? Pois é, eu sei o quão terrível ele pode ser. É comum pessoas ficarem com a autoestima completamente abalada após ouvirem um “não” da pessoa que amam.
Mas, acredite, você pode ressignificar cada uma dessas rejeições e aprender com elas. Algumas envolvem o perdão, outras envolvem a aceitação e o respeito pelos sentimentos e desejos de outras pessoas que não correspondem aos nossos. Independentemente da causa da sua rejeição, você não só pode como deve ressignificá-la e continuar sua história. Talvez você já tenha entendido isso, mas ainda assim continua se sentindo abalado por crenças limitantes do tipo “não sou interessante”, “não sou bonito” ou “não tenho jeito”.
E então, você se pergunta: “O que fazer para mudar isso?” Se você estiver passando por isso em sua vida, preste bastante atenção: você é perfeito do jeito que você é! Com todas as suas qualidades e virtudes e também com todos os seus defeitos e manias, enfim, você é o conjunto perfeito de todas as suas características. Amar é aprender a respeitar as limitações, tanto as nossas quanto as dos outros. Quando falo em amor, não posso evitar trazer um pouco da minha própria crença.
Eu não poderia deixar de compartilhar um pouco sobre como Deus aceita e ama a todos nós incondicionalmente. De fato, Deus amou o homem de tal maneira, que enviou o seu único filho para morrer por nós. Você consegue imaginar a grandeza do significado disso? Quem acredita em Deus, ou em uma Força Maior que nos guia e nos dirige, nunca estará sozinho. Para aqueles que têm fé, a rejeição nunca será maior do que o amor daquele que nos criou.
Existe um provérbio que vem bem a calhar para o que acabamos de aprender neste capítulo. O provérbio diz o seguinte: O que rejeita a instrução menospreza a própria alma, mas o que escuta a repreensão adquire entendimento. (Provérbios 15:32) Se aprendermos verdadeiramente a escutar as repreensões da vida, sem dú- vidas iremos amadurecer e adquirir entendimento. Há muitas formas de lidar com uma rejeição, mas apenas uma delas leva ao desenvolvimento interior: a aceitação. A questão da aceitação é um ponto muito importante para lidar com problemas dessa natureza. Uma reação muito frequente contra a rejeição é tentar adaptar-se para agradar as pessoas. Vemos isso, de maneira bastante acentuada, na fase da adolescência, quando a pressão para ser aceito em algum grupo é muito grande.
Na busca de pertencimento e para evitar a rejeição, nossos jovens se transformam radicalmente, mudam de roupa, mudam a cor do cabelo, mudam o gosto musical, rebelam-se. Durante a adolescência essa busca é perfeitamente normal, pois é nessa fase de desenvolvimento do processo evolutivo que buscamos construir nossa identidade. E experimentar novos estilos não faz mal, muito pelo contrário.
Contudo, infelizmente essa fase de descobertas não é inofensiva para todos os jovens. Tenho visto jovens brilhantes perderem sua autenticidade para se enquadrar em padrões. Tenho visto também adultos incríveis sofrendo intensamente para se adequar a padrões de beleza, padrões de consumo, padrões de relacionamento. Tenho visto esses adultos desperdiçando um potencial maravilhoso por medo de se assumirem genuinamente. Pessoas que tentam agradar a todos geralmente se perdem em meio a tantas convicções diferentes que existem.
A busca interrupta pela aprovação alheia faz com que você priorize aquilo que você acha que as pessoas esperam de você, ao invés de fazer suas escolhas baseado em suas próprias convicções. Honrar e respeitar a sua própria história significa também saber honrar as suas convicções, os seus aprendizados e os seus valores. E mesmo, que não tenha se dado conta ainda, você com certeza conhece mais sobre você mesmo e suas necessidades do que qualquer outra pessoa no mundo. Com algumas atitudes simples podemos mudar qualquer padrão de comportamento. Basta dar o primeiro passo e colocar em prática a valorização de si mesmo, das suas crenças, dos seus valores e dos seus pensamentos.
Nem todas as pessoas do mundo irão gostar de você. Entender que não precisamos da aprovação de todo mundo, ao mesmo tempo em que não precisamos aprovar tudo, é verdadeiramente libertador. Afinal, nós também temos nossos gostos, preferências e opiniões. E da mesma forma que outras pessoas discordam de nós, também nós discordamos de muitas pessoas que possuem visões contrárias à nossa. Entender isso é libertador, embora seja uma pena que tão poucas pessoas consigam atingir esse nível de maturidade.
Queremos agradar a todos porque queremos nos sentir amados através da aprovação alheia. Mas, quanto menos essa aprovação partir de dentro de nós mesmos, mais iremos tentar buscá-la em outras pessoas. O custo dessa busca incessante é o abandono da própria essência. Seja fiel a você mesmo, sempre, e verá que amadurecer é, no fundo, tornar-se você mesmo, o que você é.
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