Mudar é extraordinário. Todo desenvolvimento se dá através de mudanças. Mas você já reparou que existem pessoas que possuem uma facilidade incrível para mudar? Alguns mudam tão naturalmente que nem mesmo percebemos a sutileza das transições e nos iludimos achando que essas pessoas “nasceram prontas”, que não precisaram mudar nem se esforçar para conseguirem chegar até onde estão. Ao mesmo tempo, você também já deve ter se deparado com aquele indivíduo cabeça dura, turrão, que persiste em erros por teimosia, mesmo quando percebe que não chegará a lugar nenhum.
Existem também pessoas que desistem de seus propósitos ao se deparem com o menor obstáculo, ou ainda pessoas que nem mesmo chegam a tentar e se conformam em se sentirem incapazes. Ao mesmo tempo, você também já deve ter se deparado com aquele indivíduo cabeça dura, turrão, que persiste em erros por teimosia, mesmo quando percebe que não chegará a lugar nenhum. Existem também pessoas que desistem de seus propósitos ao se deparem com o menor obstáculo, ou ainda pessoas que nem mesmo chegam a tentar e se conformam em se sentirem incapazes.
Eu certamente não seria um Coach profissional se não acreditasse no potencial das pessoas, na possibilidade de despertar potencialidades, talentos e capacidades nas pessoas. Com as ferramentas e estratégias corretas, somos todos capazes de atingir nossos resultados mais extraordinários. Os exemplos que trouxe nos parágrafos anteriores, na verdade, longe de serem habilidades inatas, acredito que essas diferenças se devem principalmente à programações cognitivas diferentes. Uma pessoa segura de si, aberta a receber os retornos e feedbacks do ambiente o tempo inteiro certamente se mostrará mais disposta a mudar e a se adaptar de forma saudável. Isso porque a mudança não representa para ela nenhum perigo, mas sim evolução.~
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Aquelas pessoas teimosas que insistem nos seus erros possuem ao menos uma característica positiva: a perseverança. Porém, a perseverança por si só não basta, pois insistir no mesmo erro levará sempre aos mesmos resultados. É preciso também flexibilidade e abertura. Aquelas pessoas teimosas que insistem nos seus erros possuem ao menos uma característica positiva: a perseverança. Porém, a perseverança por si só não basta, pois insistir no mesmo erro levará sempre aos mesmos resultados.
É preciso também flexibilidade e abertura. Foi pensando nessas diferenças que eu mergulhei em algumas leituras, disposto a conhecer um pouco mais sobre suas causas e como podemos contorna-las. Minha busca me levou por uma multitude de conhecimentos, dentre os quais me deparei com uma teoria psicológica interessantíssima, que acredito poder nos dar uma base para pensarmos em aspectos sociais e psicológicos que influenciam as decisões e a capacidade de mudança das pessoas.
Refiro-me à teoria da autoafirmação. Nos parágrafos seguintes, dedico-me a explicar brevemente esta teoria e também trazer um estudo realizado pelos psicólogos norte-americanos Geoffrey L. Cohen, da Stanford University, e David K. Sherman, da University of California. Devido à extensão da pesquisa que realizaram, limitar-me-ei a apenas alguns aspectos que considerei mais relevantes para entendermos melhor o tema do nosso livro: mudar é bom! Para entendermos a teoria da autoafirmação, primeiro é necessário entender o que são ameaças psíquicas e como nosso Self interpreta e reage a essas ameaças.
Toda situação social ou ambiental pode representar um desafio de adequação para o nosso Self. Quando isso acontece, é como se fosse ativado um alarme interno que aumenta nossa vigilância e nossa necessidade de nos afirmarmos. Em menor escala, as ameaças psíquicas até podem provocar mudanças positivas, quando conseguimos reagir adequadamente a elas.
Porém, elas podem também impedir uma adaptação saudável. Isso porque quando focamos exclusivamente em defendermo-nos, nós acabamos nos fechando e deixando em segundo plano a qualidade de nossa performance. Por que isso acontece? Geoffrey L. Cohen e David K. Sherman apontaram corretamente a noção de preservação da integridade do Self como mecanismo fundamental nesse processo.
A integridade do Self pode ser definida como a percepção global da nossa capacidade adaptativa, que nos permite dar respostas adequadas às diversas demandas sociais e morais que enfrentamos em nossas vidas. Tudo que ameaça essa integridade é encarado como uma ameaça pelo Self. Grandes acontecimentos, como por exemplo a perda de um parente querido, ou mudar de país, podem ocasionar ameaças psicológicas.
Mas não são apenas eventos importantes que geram ameaças. Pelo contrário, situações corriqueiras no dia a dia têm também um impacto significativo na percepção de ameaças ao Self.
Um exemplo bastante comum, a título de ilustração, é quando algumas pessoas se deparam com evidências reais que contrariam uma visão política que defendem fervorosamente em público. Percebidos como uma ameaça à integridade de seu Self, a pessoa tende a recusar esses fatos, relativiza-los ou racionalizar uma justificativa, pois reconhecer esses fatos seria como reconhecer uma falta de capacidade de escolha adequada.
Outro exemplo comum é quando um dedicado torcedor e fã de futebol assiste a uma derrota do seu time. Ao ver a derrota do time escolhido pelo seu Self, ou seja, um time ao qual a pessoa escolheu se conectar, essa derrota pode ser vivenciada em um nível pessoal, como se fosse também uma derrota da própria pessoa. O self tem uma necessidade de se sentir integrado numa narrativa própria de adequação. Cada indivíduo quer enxergar a si mesmo como uma “boa pessoa”. Isso permite um certo otimismo em relação aos desafios e frustrações da vida. Mas essa narrativa pode ser extremamente frágil, ou as vezes fantasiosa.
Quando tomamos consciência disso, entendemos que é fundamental que exista um senso crítico que confronte essas fantasias que criamos acerca de nós mesmos. Esse senso crítico é precisamente o que nos mantém dentro dos limites da realidade. Precisamos nos sentir adequados e capazes, mas dentro das limitações da realidade concreta em que vivemos.
Naturalmente, existe também a possibilidade desse senso crítico tomar uma proporção exagerada. Isso faz com que um indivíduo se julgue de modo muito mais severo do que que é julgado pelas pessoas com que convive. Esse julgamento severo gera insatisfação, sensação de inadequação e, consequentemente, insegurança. A partir disso é que a teoria da autoafirmação se centraliza. Existe uma motivação individual em manter a integridade do self.
O objetivo final, segundo os autores, é de manter uma narrativa global de adequação e não apenas de aspectos específicos. Busca-se por exemplo, ser uma “boa pessoa” e não apenas um “bom trabalhador”, ou um “bom irmão”. Entretanto, esses papéis também são incorporados nas narrativas. De forma particular, cada pessoa adapta a sua própria visão de sucesso, de forma a favorecer os aspectos que ela acredita que possui.
Uma pessoa que, por exemplo, seja boa em esportes, irá considerar essa habilidade de forma mais significativa dentro conjunto total de sua narrativa. Já uma pessoa que se percebe com talentos para aprender idiomas, provavelmente consideraria essa habilidade como importante para se sentir bem sucedida. Isso acontece por causa dessa necessidade que mencionei do Self de se sentir integralmente eficaz. Uma pessoa boa em esportes naturalmente coloca sua eficácia em função daquilo em que é reconhecidamente considerado “bom”.
Em outras palavras, nosso self adapta até mesmo aquilo que consideramos como sucesso de modo que possamos atingi-lo. Porém, diferentemente de outras espécies de animais, o ser humano possui inúmeras demandas e circunstâncias que exigem flexibilidade. Certo, até aqui nós já entendemos que nosso Self percebe algumas situações como ameaças e possui uma motivação e uma tendência em buscar uma integridade.
Mas o que são autoafirmações, afinal de contas? Ora, a teoria da autoafirmação percebeu tudo isso que discutimos até agora e propôs que existem atitudes que servem para demonstrar ou até mesmo criar esse sentimento de adequação do Self. Grandes realizações obviamente servem como autoafirmações, como por exemplo vencer algum campeonato ou concurso, ser aprovado em primeiro lugar em algum vestibular concorrido, etc. Mas pequenos atos do nosso dia a dia também servem como autoafirmação.
Algumas atitudes, se olhadas de fora, podem parecer pequenas, mas na verdade tomam uma proporção enorme na vida daquele que as pratica. Por exemplo, o simples fato de um trabalhador carregar e olhar uma foto de seu filho pode servir para gerar um sentimento afirmativo ao pensar na importância de sua família; ou uma pessoa que se sente solitária e de repente recebe uma mensagem carinhosa antes de dormir. Esses pequenos acontecimentos são capazes de nutrir sentimentos positivos, de segurança para enfrentar adversidades e de manter uma noção geral de adequação. Inúmeros acontecimentos do nosso dia a dia atuam nesse processo de gerar autoafirmações. Cada pequena coisa que fazemos corretamente nos impulsiona a fazer cada vez mais. Desde acordar no horário certo, não se atrasar, cozinhar uma comida e se sentir satisfeito com o resultado, realizar atividades com amigos, frequentar grupos religiosos, etc. Tudo isso pode ser autoafirmação. Hoje em dia, vemos autoafirmações online o tempo inteiro. Atualizar sua página de Facebook ou Instagram, por exemplo, pode ser uma atitude autoafirmativa de criar um perfil que transmita adequação. Dentre os estudos experimentais realizados, relatam os psicólogos Geoffrey L. Cohen e David K. Sherman que a maioria deles investigou pessoas escrevendo acerca de seus próprios valores. Os valores pessoais internalizados são comumente a forma mais importante de se autoafirmar.
Nesses estudos, os participantes geralmente liam uma lista de valores, escolhiam os que consideravam mais importantes e em seguida escreviam brevemente sobre o porquê de terem escolhidos aqueles valores. Verificou-se com esses estudos que o simples ato de escrita é uma poderosa atitude autoafirmativa. E essas atitudes são fundamentais para fomentar mudanças. As autoafirmações tiram o foco das ameaças percebidas pelo Self e o coloca nos recursos que o Self possui. Isso é importantíssimo.
Ao invés de se preocupar e buscar se defender, o Self pode focar nos valores e capacidades que possui e enfrentar qualquer mudança! Em suma, ações autoafirmativas podem, principalmente, atuar como uma proteção saudável contra ameaças circunstanciais e ainda amenizar posturas de defesa muito fechadas. No que diz respeito a ameaças, pessoas que afirmadas, seguras sobre seus próprios valores, tendem a se sentir menos ameaçadas e, portanto, mais aptas a enfrentar situações de exposição, desde falar em público, participar de uma entrevista de emprego quanto realizar uma prova importante.
Quanto à postura defensiva, pessoas bem afirmadas, justamente por se sentirem menos ameaçadas, são menos propensas a se fecharem como forma de defesa, consequentemente, são menos propensas a entrar em ciclos de negação, inventar desculpas ou relativizar acontecimentos. Estão assim, mais dispostas a enfrentar mudanças necessárias sem medo de se sentirem despreparadas.
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