Coaching, mesmo com uma história tão recente, tem crescido abundantemente. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Como consequência natural desse crescimento, temos um aumento de número de profissionais coaches, de cursos, livros e materiais.
Essa tendência é maravilhosa porque nos faz desenvolver e aprimorar cada vez mais nossos conhecimentos, nossas técnicas e ferramentas. Gostaria de relembrar aqui algo que eu gosto muito de sempre dizer, que é justamente essa característica multifacetada do Coaching.
Há alguns anos atrás me perguntavam muito o que era Coaching. Quando eu iniciei minha jornada, estudando profundamente várias vertentes de desenvolvimento humano, o Coaching ainda não era uma prática difundida no Brasil.
Nesse início, era comum que as pessoas não soubessem o que era Coaching. Desde então tenho me dedicado a responder essas perguntas acerca do surgimento e da prática do Coaching e tenho buscado me aprofundar cada vez mais em suas origens e teorias.
Nesse texto, buscarei compartilhar um pouquinho com você sobre uma teoria que surgiu da biologia e que fundou uma metodologia científica de pesquisa. Trata-se da abordagem sistêmica, que surgiu a partir dos trabalhos desenvolvidos pelo biólogo Ludwig von Bertalanffy.
Você já deve saber que o Coaching em si não é uma ciência, mas sim um conjunto de saberes e conhecimentos. O Coaching se apropria de diversos recursos que reconhecidamente funcionam de ciências do comportamento, como psicologia, antropologia, sociologia, neurociências, etc, e também técnicas e ferramentas de administração de empresas, economia, recursos humanos, entre outros.
Essa concepção do Coaching deve muito à teoria geral de sistemas criada por Ludwig von Bertalanffy e à abordagem sistêmica desenvolvida a partir dessa teoria. Atualmente, já se fala especificamente em Coaching Sistêmico, porém o que minhas pesquisas me levaram a concluir foi que, na verdade, toda prática de Coaching se deve, ao menos em parte, à uma concepção sistêmica do ser humano. Para entendermos melhor, vejamos primeiro o que é a abordagem sistêmica e como ela surgiu.
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A abordagem sistêmica
A tese central da abordagem sistêmica é de que o todo é sempre maior do que as partes. Várias ciências diferentes observam e estudam os mesmos objetos e fenômenos a partir de pontos de vistas diferentes. A abordagem sistêmica visa justamente substituir uma noção linear de investigação e de causalidade por uma visão mais abrangente do todo de forma interativa.
Esse pensamento supõe, naturalmente, que um fenômeno é sempre parte de algum todo, entendido como um sistema. Por exemplo, o ser humano é em si um sistema composto por partes, membros, etc. Porém, ao mesmo tempo, o ser humano é também parte de outros sistemas que abrangem uma totalidade ainda maior do meio social, ambiente familiar, período histórico em que está inserido, entre outros.
A abordagem sistêmica aplicada em ciências humanas é caracteristicamente multidisciplinar, porque leva em consideração as diferentes visões sobre um mesmo objeto. Assim, ao se voltar para o homem, não se priorizam aspectos apenas sociais em detrimento de aspectos biológicos, por exemplo. Com uma visão sistêmica, busca-se antes de tudo, uma visão total que envolve todas as partes desse sistema.
Teoricamente, a abordagem sistêmica é sustentada por conceitos relativamente simples: cada sistema é sempre maior do que a mera somatória de suas partes, pois todo sistema existe em uma relação de independência ou de interdependência com outros sistemas. Mesmo que existam sistemas fechados, existe ainda uma relação desses sistemas com o meio em que está inserido, ainda que essa relação seja de ruptura ou afastamento.
Essa abordagem sistêmica proporcionou uma verdadeira reforma na lógica do pensamento tradicional. Isso significa novos modos de pensar, novas reflexões e, consequentemente, novas possibilidades intervenções.
Quando aplicada em um contexto humano, a abordagem sistêmica iniciou uma nova perspectiva de resolução de problemas e de desenvolvimento pessoal. Dentro do contexto organizacional, como na administração de empresas, a abordagem sistêmica também revolucionou os modelos de gestão tradicionais, colocando em evidência a forma como cada componente, desde colaboradores, prestadores de serviço, até clientes, etc., interagem com o todo da empresa.
A questão da dinâmica dos sistemas é também um fator muito importante e que precisa ser levado com consideração quando falamos em abordagem sistêmica. Existe uma interação dinâmica e interdependentes entre os elementos de cada sistema e entre os sistemas também.
Isso cria uma perspectiva de análise diferente do modelo linear tradicional de causalidade. Assim, não é apenas A que causa B. É A que causa B que por sua vez causa A. Existem relações dinâmicas de interdependências circulares
Em outras palavras, isso quer dizer que os elementos dentro de um sistema se influenciam mutuamente. E esses sistemas, em relação com outros sistemas, também se influenciam mutuamente.
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A visão do Coaching
O Coaching, naturalmente, incorporou de forma espontânea essa visão sistêmica nos processos humanos. Isso permitiu não apenas o desenvolvimento de uma prática eficaz e com resultados comprovados, mas também ampliou a própria gama de possibilidades de trabalhos, de intervenção e de demandas de clientes.
Dentro desse campo de visão, o Coaching compreende cada ser humano como um ecossistema próprio, que possui suas particularidades, mas que está em constante interação com todo o meio ambiente que o circunscreve. Isso significa levar em conta, portanto, tanto aspectos interpessoais quanto intrapessoais.
O coach atua como um intermediário, que auxilia seu cliente, o coachee, a atingir algum resultado ou meta específica e determinada a priori. Como isso é feito? Através do uso correto de ferramentas propícias para cada caso e de uma comunicação profunda com o cliente, com perguntas poderosas, capazes de gerar insights, tornar consciente as capacidades, limitações e os recursos disponíveis naquele momento. Esse é o compromisso de todo coach.
Dessa forma, trata-se de uma prática análoga em muitos pontos à concepção sistêmica do ser humano. O Coaching atua, portanto, com uma abordagem sistêmica aplicada ao desenvolvimento humano. Mas ele não para por aí. O Coaching vai ainda além.
A originalidade do Coaching é precisamente o fato de não se referir a nenhuma teoria especifica como um modelo completo. O Coaching não busca defender qual teoria é a mais verdadeira ou completa, mas antes, qual teoria é a mais eficaz, a que produz resultados mais rápidos e duradouros em determinados contextos.
Na prática, não quero dizer que todo coaching tem como base a abordagem sistêmica, mas sim que essa visão sistêmica é um substrato da prática do coaching atualmente. O coach se apropria sutilmente da lógica do cliente, de suas crenças, valores, experiências de sucesso e fracasso e suas resistências para buscar um caminho de mudança.
Esse caminho não é dado pelo coach. Pelo contrário, é através da lógica e da verdade próprias do cliente que o coach pode criar um caminho em conjunto com ele, utilizando sempre os recursos do cliente. O caminho e o objetivo da mudança são, portanto, sempre definidos pelo cliente.
O processo de coaching engendra mudanças positivas, direcionadas, sempre com vistas a um objetivo. Analisando todo esse conjunto, que podemos entender como um sistema, o coach auxilia o cliente com um movimento de cocriação, de criar juntos, com etapas e estratégias de desenvolvimento e melhorias.
Nesse sentido, não é a verdade que preocupa o coach. Não é a busca por uma verdade absoluta, mas sim uma busca pela verdade do cliente. Todos os recursos são do cliente e estão no cliente, e não no coach, nem nas teorias. Cada indivíduo é uma pessoa singular, com recursos pessoais para seu próprio desenvolvimento.
É por isso que defendo sempre os princípios absolutos do Coaching, que envolvem a suspensão de julgamentos e uma conduta ética nas relações humanas. Isso é fundamental e imprescindível para um processo de mudança bem-sucedido e duradouro. Nos trabalhos que eu desenvolvo, busco sempre colocar o Ser humano em seu devido lugar de autonomia e de exercício da sua capacidade de escolha. Afinal, somos todos livres.
Somos livres, inclusive, para buscarmos ajuda, auxílios, orientação, treinamentos. Embora possa parecer óbvio para alguns, isto precisa ser dito, porque é isso que garante uma boa relação entre Coach e coachee. Uma relação verdadeira e profunda, uma conexão entre duas almas.
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