De acordo com a biologia, o nosso ciclo de vida é composto por 4 fases: nascer, crescer, reproduzir e morrer. Todos nós vivemos sabendo e tendo consciência sobre esta realidade, que é irrefutável.
Porém, o que acontece é que encontramos um problema justamente na última fase, que é a morte, já que sabemos que se trata de algo irremediável. Não há consolo suficiente para quem vive sem as pessoas amadas por perto e nem para aqueles que sentem que estão partindo e vão deixar seus entes queridos por aqui.
Por esta razão, o artigo de hoje tem a intenção de acalmar um pouco o coração de quem está indo embora e de quem fica. Claro, que você não vai ler aqui soluções milagrosas, mas entenderá melhor como funcionam as fases do luto e de que forma é possível lidar com cada uma delas. Acompanhe!
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As 5 fases do luto e de que maneira lidar com elas
Não é fácil! Isso é algo que todos nós imaginamos. Porém, somente quem passa por este momento inevitável é que realmente consegue compreender e dimensionar o quanto estar na iminência da partida ou perder alguém é de fato uma dor que não se consegue explicar.
Por mais que se esteja rodeado de pessoas, abraços e palavras de conforto, é difícil encontrar algo que realmente console e ajude uma pessoa em luto a atravessar este momento delicado.
Como eu disse no começo, não quero aqui apresentar fórmulas milagrosas, até porque elas não existem. A minha intenção é apenas mostrar maneiras alternativas de tentar lidar com a situação, por mais difícil que ela seja.
Assim, a psiquiatra suíça Elisabeth Kubler-Ross (1926 – 2004) passou anos da sua vida estudando as reações psíquicas dos pacientes em estado terminal. Um dos resultados dessas pesquisas é o seu livro “On Death and Dying” (“Sobre a morte e o processo de morrer”, em tradução livre), que foi publicado em 1969 e continua influenciando essa área.
Na obra, ela propõe o modelo Kübler-Ross, que explica quais são as 5 fases de luto dos pacientes com doenças terminais, mas que também podem ser vividas por pessoas que perdem seus entes queridos, que passam por alguma espécie de perda catastrófica, podendo ser aplicadas até mesmo em casos de divórcio.
Conheça abaixo quais são esses estágios:
1º Fase – Negação
Por ser o primeiro estágio, esse pode ser o que mais contém fortes emoções, tais como a dúvida, o arrependimento, a solidão e a tristeza, por exemplo. Como essa etapa envolve esses sentimentos há a possibilidade de que o indivíduo que passa pelo luto ou o paciente que vive em sua iminência, não queira se comunicar muito com as pessoas ao seu redor. Justamente por isso, esta fase pode ser chamada também de isolamento.
O alto grau de ponderação nesse momento estimula a criação de possibilidades: “e se eu tivesse feito isso”, “e se isso não tivesse acontecido” e por aí vai.
Essa parte do ciclo tem um mecanismo de defesa temporário do ego, contra a dor psíquica, diante da morte. Para explicar: o ego é o momento de reflexão que acontece entre o seu Id, que tem as vontades primitivas, e o seu superego, que tem o código de ética e moral da sociedade. Aqui é comum que a dor não fique por muito tempo, pois logo chega uma aceitação parcial. Também é comum que ela fale algo e negue em seguida, quando estiver saindo desse ponto para ir ao próximo.
Como lidar?
Esta é uma fase em que, tanto o paciente, quanto o enlutado, encontram-se em estado de choque e bastante entorpecidos pela situação. Geralmente a pessoa se pergunta como ela pode continuar, se pode continuar, quais motivos tem para seguir em frente, entre diversos outros questionamentos, que a fazem buscar por uma forma de passar por cada dia.
Neste caso, por mais que pareça estranho, a fase da negação, bem como o estado de choque, contribuem para que o indivíduo passe por esse momento, tornando a sobrevivência possível e estimulando que sentimentos, como a tristeza, realmente ganhem o espaço que precisam ganhar.
A pessoa deve enxergar a negação como uma forma da natureza lhe mostrar tudo com o que ela pode e consegue lidar. Aceitando esta fase, assim como a dura realidade que ela traz, fazendo-se os questionamentos que citei acima e diversos outros, o paciente e o enlutado dão, sem perceber, início ao seu processo de cura.
2º Fase – Raiva
Nesse momento começa a rebeldia em relação à situação. O ego já não consegue mais manter a negação e o isolamento, por isso, o indivíduo que enfrenta uma doença se questiona de diversas formas, tais como “eu nunca fiz nada de errado para ninguém, então por que isso está acontecendo comigo?”, “eu não terminei o que eu tinha para fazer em vida, então por que estou indo embora?”.
Já no caso da pessoa que perdeu alguém, as principais reações que surgem são as de raiva de quem lhe deu a fatídica notícia, do que causou a morte, de uma possível pessoa, que poderia ter evitado o óbito, podendo até mesmo questionar as ações de Deus, transformando-o em um ser injusto, desenvolvendo também reações totalmente imprevisíveis.
Justamente por conta da revolta é mais complicado que essa pessoa consiga ter um relacionamento com outras. Mesmo assim, é importante que ela saiba que tem com quem contar quando quiser e precisar.
Como lidar?
Para lidar com a fase 2 do luto, que é a raiva, o primeiro passo que a pessoa deve dar é no sentido de entender que esse estágio faz parte e é verdadeiramente necessário dentro do processo de cura. Assim, o que o indivíduo deve fazer é se dispor a sentir a raiva, mesmo que, no momento em que ela surgir, tenha-se a impressão de que ela nunca vai passar.
É importante se deixar viver esta emoção, já que, quanto mais a pessoa, seja o paciente ou o enlutado, permitir que ela venha a tona, mais chances tem de que ela se dissipe com o tempo e que o processo de cura realmente tenha o efeito esperado.
Compreender que por baixo da raiva, o que existe, na verdade, é a dor, que é natural nos sentirmos abandonados, e que, por mais que cause estranheza, a raiva pode trazer força, servindo como âncora e estrutura, quando a pessoa sente que não tem nada, contribui, significativamente, para que esta fase seja superada.
3º Fase – Barganha
Esse passo é considerado como um tipo de negociação da dor pela perda, já que a negação e o isolamento foram embora. Agora é o momento em que o indivíduo doente, ou aquele que perdeu um ente querido, começa a pensar se talvez ele mudasse seu comportamento, poderia haver alguma espécie de salvação.
As conclusões são reflexões como “ser uma pessoa melhor”, fazer promessas e pactos com Deus, para que, dessa maneira, seja possível receber uma graça ou milagre, efetivamente falando.
Como lidar?
A forma de lidar com as situações e sentimentos trazidos por esta fase é tomar consciência de que, neste momento, surgirá uma infinidade de declarações, que vão sempre permear o “E se…”. A intenção da pessoa é voltar no tempo, na tentativa de encontrar uma forma de impedir que o pior aconteça ou de reverter o que já, de fato, aconteceu.
O processo é o de se conscientizar que, na verdade, o que está por trás da barganha é a culpa por acreditar que se poderia ter feito algo de diferente, tanto ao longo da vida, quanto para evitar o pior.
Entender que agir assim é permanecer preso ao passado, pode ser uma maneira de ajudar a passar pela fase da barganha, efetivamente e na prática.
4º Fase – Depressão
Nesse período, há uma percepção maior de que não tem mais volta: a partida está realmente e cada vez mais próxima. Agora tem sido impossível negar que a morte está batendo à porta e as emoções que surgem variam entre a impotência, desinteresse, melancolia, apatia e desânimo.
Aqui, o mais comum é que hajam momentos de choro, isolamento, reflexão sobre a falta que o outro fará, desejo de organizar a sua vida da melhor maneira possível, entre diversos outros comportamentos.
Como lidar?
Para quem está passando por este momento, o primordial é entender que a fase da depressão não necessariamente se configura como uma patologia em si, uma vez que o seu surgimento é natural e trata-se da resposta mais adequada quando há a iminência da morte ou após uma grande perda.
Deixar de lado a ideia de que a depressão pode ser algo não natural ou uma situação a ser corrigida é um dos caminhos que se deve seguir nesta etapa. Isso porque estamos falando de uma perda irreparável, sendo assim senti-la é mais do comum, faz parte do processo de cura e deve ser um passo dado durante a caminhada pelo luto.
5º Fase – Aceitação
Finalmente, quem está doente entende e aceita a sua condição, e quem aqui ficou passa a ter o seu sofrimento um pouco mais suavizado. Não é um cenário feliz, mas é um cenário de tranquilidade para o indivíduo em si e para quem está em volta. A mudança de ponto de vista almeja a paz de não ter que lidar com a negação, a rebeldia ou o desespero.
Nesta fase a pessoa reflete e percebe o momento com mais congruência, conseguindo desenvolver em sua mente expectativas mais tranquilas, algo que facilita bastante a aceitação do que está ocorrendo, bem como do que já se passou, deixando, assim, que as possibilidades de reação surjam.
Como lidar?
Lidar com a fase da aceitação tem a ver com perceber que a realidade de estar indo ou de ter perdido alguém fisicamente agora é permanente. Isso não quer dizer que se deva gostar ou que a pessoa passará bem por ela o tempo todo, mas que ocasionalmente esta será aceita, uma vez que, conforme o tempo vai passando, se aprende a conviver com isso.
No caso de quem perde alguém, a saudade será sempre existirá, sendo que a consciência que se deve tentar tomar é a de viver em um mundo onde a pessoa querida não está mais presente.
Durante todo este processo é importante lembrar que não existem pessoas iguais, portanto, é possível que alguns indivíduos passem por essas fases de formas diferentes. Neste sentido, o essencial é estar ali por quem precisar.
E caso seja necessário, contar também com a ajuda de um profissional especializado, como um psicólogo ou psiquiatra. Pode ser uma boa alternativa para atravessar esta longa e difícil estrada.
Espero ter ajudado, pelo menos um pouco que seja, com as palavras que aqui compartilhei. Se neste momento você enfrenta esta difícil situação, o meu desejo é que você encontre, de alguma forma, o conforto necessário para continuar, lembrando-se sempre de nunca esquecer que a pessoa amada estará presente em seu coração, em sua vida e na saudade que você sente.
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