A jornalista Flávia Cintra é conhecida pelas grandes reportagens que realiza no programa Fantástico, da Rede Globo, desde 2010. Mas, além do seu trabalho, existe um detalhe que chama a atenção dos espectadores que a veem pela primeira vez: Flávia é tetraplégica e apresenta suas matérias em uma cadeira de rodas.
Embora seja comum vermos pessoas em cadeiras de rodas no dia a dia, na TV, no posto de jornalista de um dos principais programas brasileiros, isso ainda é uma novidade. Entretanto, bastam alguns minutos para que a cadeira se torne uma coadjuvante e o talento da profissional ocupe toda a tela.
O trabalho de Flávia é importante por diversos motivos, em primeiro lugar pelos temas abordados nas matérias, afinal o jornalismo exerce um papel fundamental para a sociedade. Mas não podemos deixar de citar um fator bastante citado atualmente, a representatividade.
Para um cadeirante, ver na TV uma jornalista como Flávia em ação é bastante inspirador. É ter as esperanças e sonhos renovados por ver alguém que chegou lá. Por isso, a história dela vale a pena ser contada, porque pode estimular e inspirar muitas pessoas, além de ajudar a combater o preconceito.
Continue lendo para conhecer a trajetória dessa grande mulher e profissional e conferir informações sobre as pessoas com deficiência no Brasil.
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Pessoas com deficiência no Brasil
Segundo o Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 17,3 milhões de pessoas no Brasil apresentam algum tipo de deficiência motora, o que equivale a 8,4% dos brasileiros. Boa parte delas tem dificuldade de locomoção, o que limita algumas ações.
Dentro desse número existem também os tetraplégicos, que são aqueles que possuem uma deficiência que afeta a musculatura do tronco e ainda as quatro extremidades do corpo, ou seja, pernas, pés, braços e mãos. Nesse quadro está Flávia Cintra, de quem contaremos a história mais adiante.
Termo correto para pessoas com deficiência
Vale o adendo de falarmos sobre o termo correto para nos referirmos a pessoas que apresentam algum tipo de deficiência: Pessoa com Deficiência ou PcD. Os termos “deficiente” e “pessoa especial” são capacitistas, ou seja, passam uma ideia pejorativa, e por isso devem ser evitados.
Dizer que alguém é “deficiente” passa uma ideia de que aquele indivíduo não tem qualquer capacidade, o que não é verdade. Da mesma forma que se referir a uma pessoa como “especial”, transmite um pensamento equivocado, a afastando das demais.
Devemos dizer simplesmente Pessoa com Deficiência, porque é a expressão que transmite com mais clareza a realidade. Afinal, é exatamente o que são, pessoas como todos nós que possuem algumas necessidades diferentes da maioria. Excluindo essa parte, continuam sendo indivíduos que têm sonhos, estudam, trabalham, se apaixonam, fazem amigos, se casam, têm filhos e assim por diante.
A história de Flávia Cintra: repórter do Fantástico
Aos 18 anos, Flávia voltava para Santos, cidade do litoral paulista onde morava. Quando passava pela rodovia Anchieta, o motorista, seu então namorado, foi desviar de um corpo que estava estendido no asfalto, mas perdeu o controle do carro, que capotou diversas vezes.
A jornalista conta que, quando o veículo parou, ela já não sentia o corpo do pescoço para baixo, percebendo que estava presa às ferragens. Desse momento em diante, sua vida mudou e, após uma cirurgia, foi diagnosticada como tetraplégica. Com algum tempo de fisioterapia, recuperou alguns movimentos das mãos e dos braços.
O interessante é pensar que Flávia não se abalou com sua nova realidade. Certamente houve um momento de reflexão e adaptação, mas ela decidiu que viveria bem e realizaria todos os seus sonhos. Ela conta que suas experiências mais importantes, tanto no âmbito profissional quanto pessoal, vieram quando ela já estava na cadeira de rodas.
Após algum tempo, já tetraplégica, Flávia foi para a universidade e se formou em jornalismo. Também se casou e teve o privilégio, como ela mesma diz, de ter dado a luz a gêmeos, chamados Mariana e Mateus.
Sua gravidez foi registrada em parceria com o cineasta João Jardim e deu origem a um documentário. A produção serve para auxiliar, preparar e informar pessoas que tenham esse e outros tipos de deficiência, quanto aos cuidados na gravidez e demonstrar o quão isso é possível. Afinal, Flávia engravidou naturalmente e teve uma gestação tranquila.
A jornalista deu novos significados a uma tragédia que poderia lhe tirar o sorriso do rosto e fazer com que sua vida se pautasse em sua deficiência. Mas a busca por seus objetivos de vida e a vontade de realizar tudo aquilo que desejava, fez com que a tetraplegia se tornasse um obstáculo totalmente transponível.
Confira abaixo um talk que Flávia Cintra fez para a plataforma TED, em que fala sobre a sua contribuição para um mundo mais inclusivo.
Livro “Maria de Rodas” – Delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes
Em 2012, Flávia Cintra se juntou a outras quatro mulheres, Carolina Ignarra, Tatiana Rolim, Juliana Oliveira e Katya Hemelrijk, e juntas publicaram o livro “Maria de Rodas”. Na obra, as autoras falam sobre a experiência da maternidade como cadeirantes.
Elas afirmam que, no início do projeto, acreditavam que o ponto que as unia era o fato de terem dado a luz e viverem sobre cadeiras de rodas. Entretanto, ao longo do processo perceberam que possuíam uma série de outros pontos em comum.
Assim, reuniram histórias que falam sobre diferentes temas que se relacionam não apenas com o fato de serem cadeirantes, mas também mães e, principalmente, mulheres. Autoconhecimento, autoestima, relacionamento familiar e interpessoal, coragem e felicidade são alguns dos assuntos abordados.
É importante destacar que, embora retrate diversos desafios que fizeram parte de suas vidas, as autoras prezaram por um tom leve e até divertido na escrita. Uma leitura bastante interessante para mulheres que se identificam com elas, seus companheiros e para todos que desejam desmistificar temas ligados às pessoas com deficiência.
Você já conhecia a história de Flávia Cintra? Aproveite para deixar seu comentário abaixo e compartilhar o conteúdo em suas redes sociais para que mais pessoas se inspirem, se informem e se unam para a construção de uma sociedade inclusiva.
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