Você sabia que na natureza os animais somente permanecem acordados além do tempo necessário se for uma questão de sobrevivência? O ser humano é o único animal que se priva, voluntariamente, do sono sem um motivo essencial.
Há quem passe as noites estudando para o vestibular ou fazendo trabalhos para a faculdade. Quem já tem uma carreira profissional pode passar madrugadas inteiras terminando projetos que precisam estar prontos pela manhã. E claro que tem aqueles que se privam do sono pelo simples desejo de permanecer mais tempo na balada.
Algumas dessas coisas realmente são bastante importantes, contudo, nenhuma delas é um motivo realmente aceitável para se privar do sono. No contexto selvagem, os animais se privam do sono quando precisam caçar para acabar com a fome ou fugir quando estão sob ameaça.
Em nossas vidas, contudo, não temos esse tipo de motivo para nos manter acordados, não é mesmo? Mas, qual seria o grande problema de se privar de uma boa noite de sono? No artigo a seguir iremos explicar melhor a relação que existe entre o sono e a saúde mental.
Por que o sono é importante para a saúde mental?
Permanecer períodos longos sem dormir representa uma grande ameaça para o bem-estar do indivíduo, uma vez que tem consequências para a saúde física e mental. Apesar de a insônia ser um sintoma da depressão e outros transtornos mentais, devemos ressaltar que ela pode ser um dos fatores desencadeantes dessas questões.
Pesquisas recentes identificaram que existe uma ligação causal entre insônia (privação do sono) e sintomas como alucinações, paranoia, delícias, entre outros. Ao que tudo indica, se trata de uma via de mão dupla em que transtornos mentais causam insônia e a insônia ajuda no desenvolvimento de transtornos. Nessas pesquisas foi possível observar melhora desses sintomas com o tratamento da insônia desses pacientes.
A privação do sono também representa uma grande ameaça para processos cognitivos como memória e aprendizagem. O período do sono é essencial, pois é durante ele que se dá a consolidação da memória de longo prazo e se fortalecem novas conexões neuronais.
Pessoas que dormem menos apresentam maior dificuldade para aprender novas habilidades. Então, virar as noites estudando e fazendo trabalhos acadêmicos pode não ajudar muito.
Comunicação cerebral: como a falta de sono pode ser prejudicial?
O pesquisador Matthew Walker e alguns colaboradores realizaram um estudo na Harvard Medical School com 26 estudantes com idades entre 24 e 31 anos. Alguns dos estudantes permaneceram a noite toda em claro, enquanto outros dormiram a noite inteira. Depois dessa noite, os pesquisadores utilizaram ressonância magnética funcional para analisar como era o comportamento cerebral dessas pessoas.
Os voluntários precisaram olhar para algumas fotos que ficavam mais perturbadoras com o passar do tempo. A primeira imagem tinha somente uma cesta vazia sobre uma mesa, porém, as últimas tinham cenas como uma pessoa com uma tarântula no ombro ou então cenas traumáticas que geravam forte estresse emocional.
Essa pesquisa teve resultados bastante interessantes, o cérebro daqueles que passaram a noite em claro se comunicava de uma forma diferente do cérebro de quem tinha dormido bem. Essa percepção foi obtida através da observação de uma pequena estrutura cerebral chamada amígdala, responsável pela decodificação de emoções.
Resultados em quem dormiu a noite toda
Os estudantes que dormiram a noite toda tiveram o acionamento da amígdala que, por sua vez, enviou estímulos para outra parte do cérebro chamada de córtex pré-frontal. Essa última é responsável pelo raciocínio e contribui para realizar a contextualização das emoções. Basicamente, essa área é que nos diz que uma tarântula em uma foto não é um perigo real.
Resultados em quem não dormiu a noite toda
Nas pessoas que não dormiram a noite toda, o caminho dos estímulos foi completamente diferente. Primeiramente, a amígdala dessas pessoas se mostrou 60% mais ativa, o que indica maior sensibilidade às emoções, particularmente as negativas. Uma vez que os estímulos saíam da amígdala, não eram enviados para o córtex pré-frontal.
Esses estímulos eram enviados para outra área chamada locus coeruleus. Essa área é responsável por secretar uma substância chamada norepinefrina, um neurotransmissor que é um precursor da adrenalina. Esse hormônio ativa a resposta de fuga ou luta, aquele sentimento de preciso correr ou enfrentar. Geralmente, essa sensação vem acompanhada de medo.
Conclusões
Nas pessoas que estão com o sono em dia, o cérebro é capaz de detectar quando um estímulo é interpretado de forma equivocada. Porém, em quem não tem uma rotina de sono saudável, essa interpretação é prejudicada. Ou seja, o cérebro da pessoa pode identificar como perigoso algo que na verdade não é.
O estresse prolongado pode se tornar um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos como depressão e ansiedade. É um cenário bastante preocupante porque a falta de controle emocional, por sua vez, também é um fator de risco que gera exposição desnecessária ao estresse emocional.
Dicas para melhorar o seu sono
Agora que você sabe o quanto o sono é importante para a saúde mental, confira as dicas de como melhorar a sua qualidade.
1. Prática de atividade física
A prática de atividade física durante o dia é bastante importante por oferecer uma série de benefícios. No caso do sono, manter-se ativo permite que o seu corpo fique mais cansado no final do dia. Assim será mais fácil pegar no sono quando se deitar.
2. Nada de substâncias estimulantes à noite
O ideal é que a partir das 18h você suspenda o consumo de qualquer substância estimulante, como café, chás, energéticos, cigarro, entre outros. É válido evitar o álcool também, pois mesmo sendo uma substância depressora do sistema nervoso central pode atrapalhar sua qualidade do sono.
3. Evite atividades na cama
A cama não deve ser usada como um lugar para atividades de trabalho, assistir filmes e séries ou para navegar nas redes sociais. Tais hábitos podem prejudicar a sua capacidade de pegar facilmente no sono. Então, é importante que, se for possível, você realize esse tipo de atividade em outro cômodo da casa.
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