O psicólogo e estudioso suíço Carl Gustav Jung foi o responsável por cunhar o termo sincronicidade, com o objetivo de explicar as coincidências que parecem tomar conta da vida de muitas pessoas. Provavelmente, já aconteceu de você estar pensando em um tema que não tem relação com o seu cotidiano e, de repente, descobrir que um dos seus amigos está lendo sobre ele ou, ainda, pensar em uma pessoa que não vê há muito tempo e encontrá-la casualmente na rua. Continue acompanhando e entenda como o conceito de sincronicidade explica essas e outras situações coincidentes.
O que é a sincronicidade?
A teoria de Carl G. Jung fala a respeito do que ele conceitua como coincidência cognitiva, aquilo que entendemos como coincidência é, na verdade, resultado de uma conexão mental bem mais ampla. Episódios como os que mencionei acima são bem comuns, todo mundo já ficou pasmo diante de um acaso tão inexplicável que parecia mágica.
Nesse tipo de situação, parece existir uma conexão entre os envolvidos, uma ligação que não pode ser vista, mas que está lá. Esse elo é a sincronicidade conceituada por Jung, não há uma simples casualidade, mas sim uma força do universo atuando para que as pontas soltas se juntem.
O sentido da palavra sincronicidade
A palavra sincronicidade foi criada por Carl G. Jung para definir o que pareciam acontecimentos coincidentes sem uma ligação aparente. A definição desse termo, elaborada pelo próprio psicólogo, entende a sincronicidade como um princípio de conexão acausal (padrão de conexão que não pode ser explicado utilizando a causalidade convencional como base). Sinônimos seriam a já citada coincidência cognitiva e o paralelismo acausal.
O conceito foi elaborado e apresentado superficialmente por Jung na década de 1920, contudo, foi somente no ano de 1951 que ele elaborou um panorama mais completo a respeito, enquanto participava de uma conferência em Eranos. No ano seguinte, 1952, publicou um artigo intitulado: “Sincronicidade – um princípio de conexão acausal” em um volume que possuía um estudo elaborado pelo físico e vencedor do prêmio Nobel Wolfgang Pauli, em que era tratado um tema afim.
Wolfgang Pauli e Carl G. Jung
Vencedor de um prêmio Nobel e um físico brilhante, Wolfgang Pauli construiu uma carreira sólida, evitando o que ele chamava de o viés da confirmação, que, basicamente, é ratificar uma teoria. No entanto, ele não teve problemas em oferecer a sua credibilidade para o conceito elaborado por Jung, tornando-se co-autor de um artigo com o mesmo.
Dentre as evidências que Pauli usou para dar mais peso à teoria, estavam alguns de seus sonhos que acabavam se tornando reais mediante a participação de pessoas distantes. Um exemplo divertido que foi inúmeras vezes citado por Jung era o escritor francês Émile Deschamps, um senhor chamado de Forgebeau e pudim de ameixa. No ano de 1805, o escritor recebeu um saboroso pudim de ameixa do até então estranho de Forgebeau.
Passada uma década desse acontecimento, eis que Deschamps encontra pudim de ameixa no cardápio de um restaurante e decide, então, pedir. No entanto, o garçom lhe explica que o último pedaço acabou de ser servido para ninguém menos que de Forgebeau. Mais um tempo se passou e, no ano de 1832, o escritor se depara com pudim de ameixa em uma lanchonete e rindo comenta que só falta mesmo a presença de Forgebeau nessa cena, e o homem – já idoso – aparece nesse instante.
Curiosidade
A respeito do caso citado acima, é válido mencionar que Deschamps se refere ao indivíduo do pudim de ameixa como De Fontgibu em “Trabalhos completos de Émile Deschamps” e “Ecos da Harpa da França”. Na obra, o senhor é um coronel e marquês que teria lutado contra Napoleão. No entanto, no histórico francês não é possível encontrar nenhum Fontgibu. Isso pode significar que se trata apenas uma história fictícia ou que o nome foi mudado.
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Sincronicidade mental: entenda como ela acontece
Para Jung, o pai do termo sincronicidade, o conceito se refere a dois acontecimentos, interior e exterior, que ocorrem simultaneamente sem ter entre si uma ligação passível de explicação racional, porém, que possuem sentido para quem está observando. O psicólogo percebeu existir uma ligação entre o indivíduo e o ambiente em torno dele, o que favorece as circunstâncias coincidentes, criando assim um valor específico e um sentido simbólico.
Jung acreditava que diferentes eventos poderiam estar ligados pela causalidade, e também por significado. Os eventos que possuem ligação por significado não demandam uma explicação sob o viés da causalidade. Em linhas gerais, isso não oferece nenhuma contradição ao Axioma da Causalidade. Eventos independentes, mas coincidentes, estavam na verdade ligados a outros eventos paralelos que possuíam uma ligação entre si. A coincidência seria apenas uma “muleta” que facilitaria a explicação do que não pode ser racionalmente explicado.
Na próxima vez em que uma casualidade inexplicável acontecer, lembre-se do conceito de sincronicidade de Jung antes de nomear a situação como um episódio de magia ou sorte. A sincronicidade aparece na forma de uma solução que esteve o tempo todo guardada dentro de sua mente, pode acontecer a qualquer momento. Geralmente, influencia na tomada de uma decisão relevante, então, vale a pena ficar atento para não deixar que a sincronicidade mental passe sem ser aproveitada.
Atenção para o que te cerca
Aqueles que desejam favorecer a ocorrência dos episódios sincronísticos devem começar a exercitar suas mentes para ficarem atentos ao contexto que os cercam. Conversas que são ouvidas casualmente no metrô, músicas que tocam na playlist do seu vizinho de mesa, livros nas vitrines das livrarias, anúncios publicitários, entre outros, possuem o fio invisível da sincronicidade. Em alguma esfera, todos esses elementos se unem para produzir uma resposta plausível para algum questionamento.
O mais importante é manter uma atitude leve em relação ao mundo, permitindo que a sincronicidade simplesmente aconteça. Aprenda a escutar a voz interior que muitos chamam de intuição para deixar que as coincidências cognitivas se tornem mais comuns no seu cotidiano. Curiosamente, por mais que não se possa provar a existência de uma lei universal da sincronicidade, também não é possível negá-la. Então, o melhor é aprender a utilizá-la a seu favor.
Transmissões de pensamento
O conceito de sincronicidade propõe a existência de uma espécie de compartilhamento mental de pensamentos. Um pensamento passa pela mente de um indivíduo e então pode ser compartilhado com outro, ambos podem se conhecer ou não. A ideia é que os pensamentos podem ser transmitidos como se fossem ondas eletromagnéticas ou correntes elétricas.
Ressalto que não há comprovação científica a esse respeito, apenas estudos empíricos. Com base no que foi estudado até o momento é possível trabalhar com duas linhas de pensamento que apresentarei com mais detalhes a seguir.
Compartilhamento mental
Quando uma transmissão de pensamento acontece, não há como estabelecer uma linha temporal de quem pensou antes. Uma pessoa pode pensar em algo e não falar, algum tempo depois outra pessoa pensa e fala. Certamente, já aconteceu com você de ter pensado em falar algo e se dar conta que o mesmo já foi dito segundos antes por outro membro do grupo.
Outro ponto importante de esclarecer a respeito do compartilhamento de pensamentos é que ele não acontece somente entre pessoas que se conhecem e têm relações entre si. Uma forma prática de exemplificar é se atentar para o fato de que existem diversos escritos antigos semelhantes como, por exemplo, a história bíblica da “Arca de Noé” e o “Épico de Gilgamesh”, oriundo da Mesopotâmia.
Textos escritos em lugares distantes, com culturas diferentes, mas que são praticamente iguais. Esse exemplo permite entender o conceito formulado por Jung de que os pensamentos são como ondas magnéticas capazes de se propagar entre as mentes. Em determinadas situações, poderiam até mesmo se propagar entre diferentes culturas.
Sincronicidade mental
Nessa categoria, são considerados para a ocorrência da sincronicidade elementos físicos e a ação do indivíduo. Quando uma pessoa está em um ônibus ou metrô, por exemplo, tem bastante tempo de ócio durante a viagem e, nesse período, tende a permanecer mais focado no seu interior, dando origem a diversos casos de sincronicidade mental.
Talvez o indivíduo pense a respeito de um filme de que gosta e, de repente, perceba que alguém está usando uma camiseta com uma estampa em referência ao longa. Também pode acontecer da pessoa ter pensado em um assunto desconexo da sua rotina ao longo do dia e ser surpreendido por um anúncio a respeito na televisão. Há diversos casos em que parece existir uma casualidade que beira ao inacreditável.
Descoberta simultânea
Ao falar sobre sincronismo, é relevante também mencionar a descoberta simultânea, Jung acreditava que esse tipo de evento síncrono era bem mais comum do que as pessoas imaginam, sendo inúmeras vezes mais frequente do mero acaso aleatório. Para ele, as coincidências cognitivas podem ser percebidas com muito mais facilidade do que aquelas que não têm significados.
O que dizem os críticos?
Aqueles que criticam a teoria da sincronicidade dizem que as evidências síncronas nada mais são do que um viés de confirmação, em que informações são interpretadas com o único objetivo de confirmar o pensamento de alguém. As coincidências inexplicáveis que poderiam ser explicadas pela sincronicidade, seriam, na verdade, apenas uma ferramenta de confirmação utilizada por quem apoia o conceito.
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