“Eu fiquei 7 anos sem conseguir me olhar no espelho” conheça a história de autoaceitação de Glaucia.

Desperte Seu PoderEu fiquei 7 anos sem conseguir me olhar no espelho

Criada em Honório Gurgel, uma comunidade localizada na zona norte do Rio de Janeiro, a história de Glaucia é marcada por vários episódios que deixaram grandes traumas durante toda a sua vida. Logo na infância ela teve que lidar com o assassinato cruel de seu pai e pouco tempo depois do seu irmão mais velho, que foi morto no dia das mães.

Diante dessa realidade, ela entendeu desde cedo que a vida não seria fácil. “Durante uma boa parte da minha vida tive um comportamento suicida, ao lado bebidas, drogas, prostituição, uma infinidade de abusos para compensar todas minhas perdas.” Ela seguiu vivendo com sua mãe, uma mulher guerreira mas que não reconhece o fato de ser dependente química, fato que a impedia, até mesmo, de demonstrar carinho. “Ela não é de abraçar, de dar carinho, demorei muito pra conseguir ver amor em outros gestos dela, como fazer uma boa refeição, era a forma que ela conseguia demonstrar o sentimento por mim de alguma forma.”

A medida em que o tempo ia passando, os traumas e as rejeições foram se intensificando, quando sua mãe resolveu se casar, Glaucia se deparou com várias situações de racismo que enfrentava vindas de seu padrasto e dentro de sua própria casa.

“Cresci dentro de uma família, depois que ela casou só sabiam me humilhar com brincadeiras, ele colocava os dedos na minha gengiva e falava: é assim que se escolhe escravo, pela arcada dentária. Fui zoada a minha vida toda, diminuída, com a minha aparência, todo santo dia sendo lembrada de que eu não podia escurecer a família e coisas do gênero.”

Após se casar, ela viveu um relacionamento abusivo e viu perpetuar tudo o que sofreu ao longo da sua infância e adolescência. “Era uma relação extremamente abusiva de uma pessoa que falava com ódio que eu tinha uma luz em mim e que ele não gostava disso. Passei 14 anos do lado dessa pessoa, de torturas psicológica a abuso em cima de abusos.”

Todas essas ofensas fizeram com que Glaucia passasse a rejeitar sua aparência, se odiando ao ponto de não conseguir sequer olhar-se no espelho. “Eu fiquei 7 anos sem me olhar no espelho, sem ao menos ter um espelho em casa, você sabe o que é se odiar a ponto de não querer viver?”

Oportunidade de ressignificar

Mas o universo resolveu surpreender, a pouco menos de um mês uma amiga que havia feito um curso no IBC resolveu a presentear com um ingresso para o Desperte Seu Poder no Rio de Janeiro. Ela foi para o evento sem saber do que se tratava, não conhecia o Zé ou a metodologia do Coaching. Já no primeiro dia foi completamente surpreendida com uma dinâmica que iria tratar justamente de como você lida com sua aparência. “O Zé pediu em um momento para a gente pegar um celular e tirar uma foto e mandar pra uma pessoa. Foi o que eu mais precisava, parecia que ele sabia o que eu fui buscar. o Zé me ensinou a honrar a minha história, honrar quem eu sou. Eu entendi que eu merecia estar no DSP, eu mereço aprender.”

Algo mudou dentro dela, durante o evento ela começou a se questionar: “Como eu podia não gostar de mim? Como eu não entendia isso? Quando você consegue entender isso, as coisas mudam, é outra realidade.”

Naquele momento, Glaucia estava conseguindo se libertar de algo que iria muito além de simplesmente não conseguir se sentir bonita. “Eu não conseguia gravar vídeos ou tirar fotos, eu não conseguia me olhar no espelho, quando eu me olhava eu via uma outra pessoa, um monstro, alguma coisa muito feia. E eu fiz uma página de militância, e eu queria agregar, queria fazer vídeos, falar com as meninas. Mas eu ficava pensando, não é possível que eu não ame o que eu vejo no espelho.”

Era o resgate de algo que a limitou durante toda a vida “eu não conseguia me olhar nem quando eu me arrumava, então no primeiro dia ele já transformou a minha vida me ensinando a me amar, respeitar minha história. Eu tenho 31 anos, são 31 anos se odiando, eu não sei quando eu me amei pela última vez, que eu gostei de mim.”

No decorrer dos dias de evento ela conseguiu se reconectar com a sua história, perdoar seus algozes e entender a sua missão. “Quando sai de casa não sabia que eu ia reencontrar com a minha vida, eu encontrei minha missão, meu chamado de vida.”

Um novo começo

Glaucia no DSP

“Hoje eu já comecei a fazer vídeos, eu quero levar tudo o que eu aprendi para o meu povo, minha favela, meus amigos, quero trazer pro meu povo que vive uma realidade tão sofrida como eu tinha. Eu fui pro DSP com vergonha por estar indo de BRT lotado todo dia e estar no meio de toda aquela galera, muitos com uma realidade completamente diferente, e hoje tenho orgulho e honro a minha história e minha busca por sempre melhorar e conseguir fazer isso. Hoje mais do que nunca eu sei o quanto sou merecedora ”

Após os três dias, o desejo de Glaucia ultrapassou os limites de querer mudar apenas a sua história, hoje ela sonha em fazer muito mais.

“Eu sempre tive o sonho de ter uma instituição de ensino, de ter uma escola, pois eu quero ajudar muitas pessoas e também não tenho filho. Só que sempre foram ideias distantes na minha cabeça, mas esse sonhos reacenderam, o sentimento veio de volta, já tenho até o nome da escola: Instituto Afro Brasileiro Glaucia Mattos. O DSP ele é literal, não é apenas um marketing, você realmente desperta algo dentro de você.”

Glaucia conseguiu se livrar das amarras que a impediam de ir além, as mudanças vão desde perdoar seus abusadores, o padrasto que durante muito tempo lhe atingiu com insultos racistas, lidar com os detalhes da sua rotina e até mesmo entender e respeitar a história de sua mãe. “Minha vida está maravilhosa, eu acordo cedo, levo o meu cachorro na rua, todo dia de manhã eu me olho de e digo que o meu dia vai ser maravilhoso, que vai dar tudo certo. Deixo minha casa limpa, a minha casa estava vivendo uma bagunça, eu consegui pegar BRT sem sentir vergonha, respeitando e tendo orgulho da minha história. Voltei a fazer minhas atividades físicas. Consigo ligar muito melhor com minha mãe, entendendo e respeitando a história dela também.”

O fato de estar contando a sua história já é algo que ela jamais imaginaria conseguir fazer “O Zé ele me deu uma coragem e um orgulho de mim que eu não estava conseguindo ter, e olha que eu tentei muito. Ele toca de um jeito que tudo faz sentido, ele simplesmente tira todas as pequenas dúvidas que você tem sobre si. Por isso eu tive coragem de falar sobre a minha história, eu nunca falei dela pra ninguém.”

IBC - Instituto Brasileiro de Coaching: Av. Prof. Venerando Freitas Borges, 561 - Setor Jaó - Goiânia/ GO - CEP: 74.673-010