Traição, de acordo com José Roberto Marques em seu livro “As sete dores da alma”, é uma experiência de quebra de expectativa, de ruptura da confiança que depositamos em alguém. Trata-se de uma dor profunda que pode ser encontrada em diversas formas de relacionamentos humanos, desde conjugais até amizades e relações familiares. O tema tem sido analisado por vários pensadores, incluindo os renomados psicanalistas Sigmund Freud e Carl Gustav Jung.
Freud
Freud, considerado o pai da psicanálise, sugere que a traição é resultado de desejos reprimidos. Ela seria, então, um sintoma da liberação de impulsos suprimidos no inconsciente. O traidor, de acordo com Freud, vive entre duas realidades: a construída pela mentira e a verdade oculta, o que coincide com as ideias de Marques.
Ainda sob o olhar freudiano, o controlador, que procura evitar a traição, pode ser visto como aquele que está em constante conflito com o seu “Eu” e o “Supereu”. O “Eu”, buscando manter a ordem, torna-se altamente controlador para evitar a dor da traição, enquanto o “Supereu” trabalha para suprimir impulsos indesejáveis que possam levar à traição. Assim, o controle pode ser visto como um mecanismo de defesa, embora gere ansiedade e agressividade.
Jung
Já segundo Jung, a traição é vista como uma manifestação da “sombra”, o lado escuro e reprimido da nossa personalidade, que contém características indesejáveis ou desconhecidas de nós mesmos. O traidor não reconhece a sua “sombra” e projeta-a sobre os outros, quebrando a confiança e causando dor.
Jung também propôs o conceito de individuação, o processo de integração do “eu” com o “self”. Esse processo envolve o reconhecimento e a aceitação de todas as partes de si mesmo, incluindo a “sombra”. Assim, o perdão, conforme sugerido por Marques, pode ser visto como um passo crítico nesse processo de individuação. Perdoar não significa aceitar o erro do outro, mas sim liberar-se do peso da traição e permitir que o traidor enfrente as consequências dos seus atos.
José Roberto Marques
Portanto, Freud e Jung, cada um à sua maneira, ressaltam a complexidade da traição e o impacto emocional que ela pode ter. Como Marques enfatiza, a cura para essa dor está no ato de perdoar — uma jornada que exige coragem, autoconhecimento e, acima de tudo, um compromisso com a própria paz interior.
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